domingo, 16 de setembro de 2012

70 anos de muita cumplicidade
Conheça a história de Luís e Raimunda Flôr, que celebram as bodas de vinho de um amor eterno
Adriana Amorim



Eles têm 70 anos... de casamento, recém-completados. E foi amor à primeira vista! Quando Luís avistou Raimunda na tradicional festa da padroeira da cidade de Baixa Verde (hoje, João Câmara), no ano de 1942, ele sabia que dali sairia seu primeiro e único casamento. "Ela era diferente", diz ele, que havia rompido recentemente um "casamento arranjado" devido às "facilidades" que o então sogro lhe havia oferecido. "Ele me ofereceu um caminhão novo. Decidi terminar, pois aprendi com meu pai que nunca devemos aceitar algo que vem muito fácil".


Juntos desde 1942, casal diz que o amor, o respeito, a compreensão e a união são fundamentais para uma relação longeva. Fotos: Ana Amaral/DN/D.A Press
Parecia mesmo obra do destino a união de Luís com Raimunda. Ele tinha 26. Ela, apenas 18. Ele era caminhoneiro, havia migrado para a cidade potiguar há pouco tempo, vindo do brejo paraibano, onde nascera e, até então, sem muitos recursos financeiros. Já ela vivia uma vida confortável, oriunda de família abastada. E o convite de casamento não tardou a acontecer. Foi feito na porta de uma igreja. "Estou viajando a Macau e volto amanhã. Quero me casar com você amanhã, sem que ninguém saiba, e quero que você pense", disse Luís, que recebeu como resposta: "Meu pai anda doente. Tenho medo da reação dele". Foi quando ele insistiu: "Voltarei amanhã".

No dia seguinte, em 12 de setembro de 1942, o próprio padre da igreja, conhecendo a família da moça, quis dificultar a investida de Luís. "Mas o pai dela é tão meu amigo... se ao menos você tivesse o batistério (documento que certifica que a pessoa foi batizada, para fins de casamento)". Luís, surpreendendo mais uma vez, prontamente retirou do bolso seu certificado, e não teve outra alternativa ao padre senão testemunhar o amor eterno de um casal apaixonado. Contudo, mesmo após o "sim", não foi dessa vez que os dois passaram a conviver juntos.

Desse casamento às escondidas, logo a família da moça tomou conhecimento e quis saber um pouco mais sobre o rapaz, afamado como "namoradeiro". Foram à Paraíba para conhecer sua família e retornaram com uma boa impressão. Logo, o pai de Raimunda propôs também o casamento civil, dali a uma semana, que ocorreu em 20 de setembro de 1942, quando ela seria, de fato, sua esposa e poderia viver com ele, como manda a tradição. "Foi até bom, pois minha casa estava um pouco desorganizada", lembra Luís, que mais uma vez se viu "entre a cruz e a espada" quando o sogro ofereceu uma mala abarrotada de dinheiro. Ele abriu, retirou parte da quantia, refletiu e, por fim, decidiu rejeitar.

"Eu até precisava, mas não sabia nem como administrar aquela enorme quantia. E lembrando dos ensinamentos do meu pai, eu sabia que teria que conseguir vencer por conta própria", recorda-se. A decisão de Luís foi crucial para o conceito do sogro, que ouvia críticas sobre o fato do genro ser caminhoneiro. "Quando diziam a ele que sua filha casara-se com um caminhoneiro, meu sogro era enfático: 'minha filha não casou com um caminhoneiro. Ela casou com um homem'", lembra Luís. "Nos casamos e hoje já são 70 anos de uma união respeitosa e de muita amizade", diz Raimunda Flôr, feliz com as surpresasque o destino lhe reservou.
Ida a Natal
Os dois decidiram morar em Natal, na época da II Guerra Mundial. "Vivemos em uma casa compartilhada com outra família, até conseguirmos a nossa própria", lembra Raimunda, que afirma sem pestanejar: "se fosse preciso fazer tudo de novo, faria tudo exatamente igual". E assim Luís foi trabalhando dia após dia e logo comprou seu primeiro caminhão, através de um financiamento. Fazia viagens constantes a Recife e a outros grandes centros econômicos da época. Foi ele, por exemplo, quem trouxe a Natal as peças para a montagem do Farol de Mãe Luiza, só para citar um exemplo. Pouco tempo depois, ele já se via com uma frota de quatro caminhões.

Em 1958, por motivos de saúde e por orientação médica, Luís foi convencido a mudar de ramo. Junto ao irmão Joaquim, que lhe acolheu em Baixa Verde e com quem iniciou o primeiro negócio, eles apostaram no ramo de combustíveis. "O primeiro passo foi adquirir uma bomba de calçada no bairro do Alecrim, mas ainda com os caminhões, para ver sedaria certo", relembra o prudente Luís. E a aposta deu tão certo que hoje quase toda a família Flôr tem um pé nos negócios dos postos São Luís.




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